Em minha infância gostava muito de ser levado até a Praça João Pessoa, no Centro de Rio Negro, pra brincar. Lá, particularmente, o brinquedo que julgava mais interessante não ficava dentro do parque infantil, mas do outro lado da praça e, sequer se movia ou mesmo era realmente um brinquedo. Grande, pintado de preto e com um chaminé, aquela máquina ali parada era estranha, diferente de outras coisas que já tinha visto, mas podia jurar que era um “trenzinho”, algum tipo de “Maria Fumaça”.
Hoje, lembrando da imaginação dos tempos de criança sobre o tal “trenzinho”, sei que aquela ideia infantil não estava de todo errada. É claro que aquilo não era um trem, mas de certa forma, por sua sua origem, seu funcionamento e consequente aparência, aquele rolo compressor pode até ser considerado um primo não muito distante das nossas primeiras locomotivas.
Fabricado em 1929 pela Berliner Maschinenbau A. G., empresa fundada em 1852 por Robert Louis Victor Schwartzkopff, nosso rolo compressor foi construído na fábrica de Berlim, capital alemã, conhecida fabricante de locomotivas ferroviárias.
Assim, como filhos de um mesmo lar, nosso rolo e as primeiras locomotivas produzidas pela Machinenbau (no famoso estilo Maria Fumaça) eram máquinas térmicas, cujo motor era movido à vapor que, combinando caldeira, chaminé, água, lenha e fogo, fazia com que o vapor resultante, sob alta pressão e temperatura, movesse o motor, suas engrenagens e as pesadas rodas de aço.
Mas, para quem acredita que uma máquina à vapor já era algo rudimentar no início do século 20, saiba que não está enganado, pois em 1929, quando o rolo foi feito, não só já existiam, como aquela mesma empresa germânica já produzia, desde 1910, locomotivas elétricas e também, desde 1924 locomotivas à diesel, com motor à combustão, ou seja, era empregado em parte do maquinário produzido pela Machinenbau, uma tecnologia muito mais avançada, leve e potente do que a empregada em um rolo compressor ainda movido à vapor.
Dessa forma tínhamos uma máquina grande, pesada, barulhenta e lenta, bem lenta, tanto na sua velocidade de operação quanto no tempo necessário para que estivesse em condições de operação, pois acender a lenha, aquecer a água, produzir vapor e este, atingir a pressão ideal para dar movimento ao motor exigia alguma hora de trabalho e espera.
Por outro lado os alemães não fabricariam ainda em 1929 um verdadeiro “dinossauro” na escala de evolução de nossa tecnologia, se este não tivesse mercado consumidor, não possuísse aplicabilidade e compradores interessados. Fato que é fácil entender quando se observa o caso por um ângulo mais Riomafrense da época, onde não se encontrava postos de combustíveis com facilidade e preços acessíveis a uma máquina “beberrona”. Nessa situação, um motor à vapor, que utiliza água e lenha, possuía como combustível, materiais de fácil acesso, baratos e disponíveis em praticamente todos os lugares para onde o rolo se locomove-se.
Ainda é bom lembrar que apesar da lentidão de sua velocidade, o volume de trabalho e a qualidade dos serviços realizados pelo rolo, na compactação dos solos de nossas ruas, estavam acima das realizadas até então por ação da força animal, ou seja uma máquina bem útil.
Assim a peculiaridade de nosso rolo compressor que por sí só já chamava a atenção das pessoas que o viam passar, aumentava à medida que os anos passavam e que novos maquinários, mais modernos, desfilavam ao seu lado, num interessante contraste visual.
Assim como as locomotivas, após várias décadas de uso, nosso rolo compressor à vapor foi vencido pelo tempo e pelo progresso, tornou-se obsoleto e foi desativado, porém, ao contrários das “Marias Fumaças”, que também marcaram época em Riomafra, ele ainda resiste, marcando presença em nossa paisagem, materializando não só lembranças de infância de algumas pessoas, como principalmente como o passado e a história de nossas cidades.
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