A 120 anos, em 20 de novembro de 1893, cinco dias após as festividades de 23 anos de emancipação política de Rio Negro, os habitantes da jovem Vila foram testemunhas da troca de tiros, entre Pica-Paus e Maragatos, sobre o centro da cidade, Riomafra vivia “um dia de guerra”, onde a Revolução Federalista mostrava a sua face.

Mas o rugir dos canhões, que lançavam seus projéteis sobre a vila, numa clara demonstração de força, do calor, do potencial destrutivo e da violência de uma guerra civil, não é exatamente o tema da nossa coluna de hoje, não que os assuntos não tenham algum tipo de relação, falaremos também de um período revolucionário, de um episódio que envolve armas, soldados, agitação, mas que de combates, enfrentamentos ou tiros não tem nada. Mas sim uma característica um tanto fria, relativa à expectativa por um combate que nunca haveria de acontecer, algo marcante em nossa história, algo bem nosso, bem peculiar, que fala da curta, mas curiosa trajetória de um grupo de voluntários riomafrense que ficou conhecido à época como “Batalhão Come-Vaca”.

Em 1930, o Coronel José Severiano Maia reuniu dezenas de homens que compuseram um Corpo de Voluntários, chamado de Batalhão Revolucionário (ou então Batalhão Patriótico) que, sob seu comando, seguiu de Mafra até Florianópolis, participando dos eventos referentes à chamada “Revolução de 1930”, uma revolta de âmbito nacional que, através de um golpe de estado, retirou o Presidente da República Washington Luís do governo e levou ao poder o gaúcho Getúlio Vargas.

Uma vez no poder, Vargas implementou uma política intervencionista, intervindo diretamente em estados e municípios, destituiu governadores e prefeitos (os adversários políticos ou opositores, é claro) de seus cargos, conduzindo (por nomeação) aliados para esses mesmos cargos. Foi neste cenário que José Severiano foi nomeado prefeito do município de Mafra.

Dois anos depois do golpe, em 09 de julho de 1932, o estado de São Paulo, exigindo a promulgação de uma nova constituição e o fim do governo Vargas literalmente “pegou em armas” e deu início a uma revolta contra o governo federal, eclodia a “Revolução Constitucionalista”.

Nesse contexto turbulento, tanto na área política quanto militar, apesar de nossa distancia geográfica do conflito, mais uma vez Severiano Maia convocou os integrantes de seu batalhão para a luta e, logo cerca de 400 homens, formando o 5° Batalhão de Reserva da Força Pública, estavam fardados e prontos para o combate, aguardando apenas a ordem de embarque para São Paulo (que deveria vir de escalões superiores) para se unirem às tropas getulistas.

Seguindo a idéia de que aquela tropa uma vez reunida, deveria assim permanecer até o embarque, para que o mesmo fosse ágil (conforme exige uma situação conflituosa) e, que isso poderia ocorrer a qualquer momento, o batalhão permaneceu íntegro, aguardando a tal ordem de embarque para a guerra. Enquanto a ordem não vinha, os homens permaneciam juntos. 400 homens que precisavam de abrigo e alimentos até a data da partida, algo que até para nossos dias, carece não só organização, quanto uma grande estrutura, necessária à manutenção das necessidades básicas daquelas pessoas, o que logicamente implica também em gastos financeiros.

400 homens juntos, sem ter efetivamente “o que fazer” para ocupar o seu tempo, uma situação em que a alimentação assumia importante papel, não só para o sustento individual quanto também para distração. Uma alimentação que tinha como um de seus principais elementos a carne bovina, preparada como churrasco, que requeria gente suficiente para o abate dos animais e a própria preparação da carne.

E assim os dias transformaram-se em semanas, as semanas em meses e sem partir para a luta, aquela rotina de refeições à base de churrasco se repetia, fato que chamou a atenção da população, a qual acabou por apelidar aquele grupo de “Batalhão Come-Vaca”.

No início de outubro daquele mesmo ano, após cerca de três meses aguardando o momento de embarcar para a área em conflito, o Batalhão Come-Vaca finalmente se pôs em movimento, foi “desmobilizado”, retornando cada voluntário aos seus afazeres normais, pois em São Paulo, os revolucionários haviam se rendido ao Exército e a Revolução Constitucionalista tinha tido o seu fim.

O Batalhão

Severiano Maia