Vivemos em uma época onde a “informação”, seja ela sobre qual assunto seja, viaja com incrível velocidade, do acontecimento do outro lado do mundo, do jogo do Mundial de Futebol realizado no Norte do Brasil ou mesmo da recente enchente em nossas cidades, o acesso a notícias e imagens acontece não só em tempo real, como em diversos meios de comunicação, de rádios, jornais, TV’s, sites de notícias e também das redes sociais.
Da mesma forma com que a informação se apresenta com “prontidão”, quem busca ou é alcançado por ela, com certeza já notou que essa informação também pode ser variada, não exclusivamente à diversidade de temas, mas à multiplicidade de versões e abordagens apresentadas sobre um mesmo assunto.
É como acompanhar algum jogo monótono de futebol e ver aquela mesma partida noticiada como “uma boa disputa” onde ainda é destacada a participação vital de certo atleta, aquele que você mal tinha notada presença em campo; como ver um determinado problema sendo minimizado à algo insignificante; ou então o alarde ou superdimensionamento de alguma coisa em visível exagero.
Essas diferentes versões de um mesmo fato, são comuns e nos cabem esclarecê-las com mais informações, coletando dados, analisando, observando fontes confiáveis, para que tenhamos uma visão o mais próxima possível da realidade, caso contrário estaremos entregues a possíveis interpretações parciais ou tendenciosas que influenciam a formação da nossa própria opinião.
Mas não é só de hoje em dia que a informação representa uma, de várias visões possíveis de um mesmo acontecimento, afinal quem escreve (fala ou se expressa de qualquer forma) geralmente incute em suas palavras, mesmo de forma discreta, a sua percepção daquilo que descreve, intencionalmente ou não.
Se a Revolução Farroupilha (1835-1845), que levou à proclamação da República Rio-Grandense e a um conflito com duração de 10 anos com o Império Brasileiro é vista hoje como fator de orgulho por aqueles que apreciam a história e tradições do Rio Grande do Sul, naquela época a ideia que algumas das informações que chegavam à nossa terra (então pertencente a São Paulo) apresentavam, não era exatamente a mesma, ainda mais porque, estávamos geograficamente e administrativamente em lados opostos no conflito.
Com uma variedade bem menor de informações, acesso restrito às mesmas, a agilidade (ou a morosidade) de obtenção de informações contrasta com nossa realidade, assim o conhecimento da Tomada de Lages, que representava o avanço da revolução para além das fronteiras da República Rio-Grandense, estava sujeita a própria capacidade humana de movimentação, como descreve um comunicado da época (14 de abril de 1838):
“… conforma desagradável notícia de se terem apoderado da Vila de Lages, os rebeldes da província de São Pedro do Rio Grande do Sul, e com o intento de chegarem até esse município, sendo esta notícia confirmada por pessoas que com velocidade imigraram de sobre dita vila para aquela cidade, para que VVSSas se ponham em cautela, com mais vigilância, esta câmara não deixa em silencio esta notícia”
Informações que, constantes de documentos da época não só transmitiam as informações que a situação exigia, como também a visão que se tinha (ou que se procurava incutir) daquele episódio, assim comunicações recebidas pela Vila nova do Príncipe, a respeito da tomada de Lages pelos gaúchos empregam termos como “Rebeldes”, “anarquistas”, possuidores de “abomináveis e subversivos princípios”, ao mesmo tempo que “motivam” o espírito patriótico pelo alerta da aproximação da revolução (que não mais iria avançar):
“Viram participar a invasão dos rebeldes do Rio Grande ao território de Lages e as justas desconfianças a de que esses anarquistas pretender estender suas correrias até esta comarca e procurar propalar aqui seus abomináveis e subversivos princípios. Essa comarca, portanto dando o devido peso a participação de VVSSas e, anuindo com excitação ao patriótico convite para de comum acordo tomarem medidas que o ponham forte resistência a quais com tentativas dos mencionados rebeldes prevenir-se que possas e arrebatar entre nó o concerto da anarquia… prevenir as autoridades deste termo para que dispuserem os ânimos dos povos que estivem prontos para um fim tão glorioso que aqui nos propomos e tem tomado outras medidas para vigilância e conservação da ordem pública.”
Informações que o Governo de São Paulo (1842), também passam a ideia de o que é certo e errado, bom e mal:
“Que cumpre a todos os habitantes da província resignarem-se a todos os males que são inerentes ao estado de guerra, que é propriamente o em que se acha desgraçadamente e Província do Rio Grande, e devendo os sofrimentos, que esse estado acarreta, ser um motivo mais para que todos os bons Paulistas se esforcem a bem do restabelecimento da ordem naquela desditosa província.”
Expressões que prosseguem nas informações repassadas entre governos até a resolução da Revolução Farroupilha em 1845 e, que mostram (apesar de se referirem a um período tumultuado político e militarmente) um pouco de como a informação é capaz de incorporar ideias, que podem contrastar com outras, no mesmo ou em outros tempos.
“… comunico-lhe a agradável notícia da completa pacificação da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul… esperando que seus habitantes darão todas as demonstrações de júbilo, e contentamento, de que devem geralmente estar possuídos todos os brasileiros, por verem já chegados ao centro comum aqueles de seus fascinados Irmãos que infelizes erravam.”