O caso da noiva do Morro do São Lourenço é uma das várias estórias de “assombração” que contam em nossas cidades e cuja origem se perde pelo tempo, atravessa gerações e trata de diferentes personagens numa mesma diversidade de locais, podendo ser ouvidas em praticamente todos os seus cantos.
Vozes, barulhos estranhos sem motivo aparente, fantasmas, criaturas fantásticas, fenômenos inexplicáveis, que “dizem”, já foram vistos por muitos, são contados por outros tantos, provados por ninguém (de forma convincente pelo menos), mas que nem por isso caem numa situação de descrença geral, pois enquanto há quem admite acreditar, outros, numa quantidade bem significativa, dizem que “tais casos não passam de lendas”, coisas fictícias, frutos da imaginação, mas, ao mesmo tempo, evitam qualquer situação que possa por à prova essas tais estórias.
Narrativas que fazem parte da nossa história, que explicam situações, episódios do passado ou simplesmente os envolvem em uma trama sobrenatural, demonstrando não só o nosso imaginário popular quanto a sua própria formação, pois quem nunca ouviu falar de bolas de fogo, que aparecendo sozinhas ou em duplas, brilham em nossas matas durante a noite, num movimento em que parecem lutar entre si, ou mesmo perseguir pessoas que por ventura as observem?
Aparições que muitas vezes, segundo muito se fala, podem denunciar a presença de alguma “panela de ouro enterrada” (tipo de tesouro escondido que nos é bem popular) nas proximidades. Seja uma criatura mágica que protege as matas, uma cobra de fogo ou pequenos incêndios espontâneos que podem ocorrer durante a decomposição de algum material, relatos de Boi-ta-tá, são conhecidos desde o século 16, citados até pelo Padre José de Anchieta antes do primeiro século pós-descobrimento e fazem parte do folclore indígena brasileiro, folclore que como vemos, foi assimilado pelos demais povos que compõe a nossa população.
Assimilação que também é o caso dos famosos “lobisomens”, que contam-se, já foram vistos em muitos lugares desta região e que pertencem a um rol de criaturas do imaginário europeu, citadas também já a mais 500 anos,cujo mito pegou carona até aqui com nossos imigrantes vindos do velho continente.
Se assombrações geralmente são sinônimos de medo, não é à toa, que muitas vezes elas estejam ligadas a personagens antigos, falecidos ou locais ligados diretamente a casos de “morte” ou dor, como locais de acidentes, desastres, batalhas ou mesmo cemitérios. Voltando ao São Lourenço, a permanência até os dias atuais do antigo cemitério tropeiro à margem da estrada daquela localidade, em que muitas vítimas da “Peste” (que assolou nossas cidades a mais de 150 anos) foram sepultadas, é por muitos atribuída a forças sobrenaturais, que agiram diretamente contra a remoção daquele campo santo, desligando motores e impedindo o funcionamento das máquinas faziam a terraplanagem daquele terreno. E, como se já não bastassem às ações contra o maquinário, as mesmas “forças” lançavam pedras contra os operadores, os motoristasque dirigiam aqueles veículos.
E assim, as mais diversas “estórias” que se contam por aí, não relatam apenas nosso folclore, mas acabam por carregar em si um pouco da nossa história, daquilo que o povo acreditava e que ainda hoje sobrevive.