Era 20 de outubro de 1930, quando a essas palavras, proferidas por Basílio Celestino de Oliveira, seguiram-se inúmeras aclamações e grande salva de palmas, tomava posse naquele momento, o recém nomeado subprefeito de Mafra (equivalente atualmente ao cargo de Vice-Prefeito). Mas, e o Prefeito? Onde estava o Coronel José Severiano Maia (ou simplesmente Zeca Severiano), ausente daquela cerimônia de posse?
O fato do sub assumir o Executivo, sem que o Prefeito estivesse presente ou mesmo assumido seu cargo, é um ponto curioso da história mafrense que, apesar de estranho é fácil de ser compreendido.
Em 03 de outubro de 1930 iniciou-se no Brasil uma revolução que, em um golpe de Estado (derrubada ilegal de um governo constitucionalmente legítimo) conduziu o gaúcho Getúlio Vargas à Presidência, quebrando a ordem política que se mantinha desde a Proclamação da República, do controle do governo federal por paulistas e mineiros. Nesse contexto de golpe, onde a legalidade é posta de lado, o Presidente interveio em Estados e municípios, destituindo governantes da oposição de seus cargos e nomeando para os mesmos pessoas de sua confiança, um procedimento nada democrático, mas muito conveniente a quem “tomou” o poder e precisa prevenir-se em relação àqueles considerados inimigos ou simplesmente não aliados.
Em Mafra, dezenas de homens compuseram um Corpo de Voluntários, chamado de Batalhão Revolucionário ou então Batalhão Patriótico que, comandado pelo empresário e político local, coronel José Severiano Maia (1° Presidente do Conselho Municipal – correspondente ao cargo atual de Presidente da Câmara de Vereadores), tinha por finalidade fornecer apoio armado aos revolucionários. Apoio demonstrado na prática pelo fato desse Batalhão marchar em direção à capital catarinense e, uma vez lá, juntamente com outras tropas leais à Getúlio, permanecer até a rendição daquela cidade (25 de outubro), ocorrida somente após a vitória da revolução no país, uma vez que as defesas da ilha de Santa Catarina não permitiram sua invasão.
È entre a eclosão da Revolução de 1930 (03 de outubro) e a capitulação de Florianópolis (25 de outubro), que o então Prefeito de Mafra, Dr. Manoel Xavier, foi destituído pelo Governador Civil e Militar do Estado (Interventor indicado por Vargas), General Ptolomeu de Assis Brasil, que nomeou os cidadãos José Severiano Maia e Basílio Celestino de Oliveira, Prefeito e Sub-Prefeito respectivamente. Como naquela situação de revolução, com a ascensão do novo governo Federal e Estadual, a posse do Executivo Municipal também deveria ser imediata, Basílio foi empossado em 20 de outubro, assumindo o comando do Executivo antes mesmo da posse do Prefeito, Severiano Maia, que naquela ocasião estava liderando seu Batalhão em Florianópolis.
O empossado em novembro, Zeca Severiano, como maior representante da revolução em nossa cidade, manteve seu apoio irrestrito ao governo de Getúlio Vargas, chegando a reunir novamente sua tropa em 1932, durante a Revolução Constitucionalista, episódio no qual nossos “voluntários” mafrenses ficaram conhecidos como “Batalhão Come-Vaca”.