Nesse período em que muito se fala, vê, ouve e lê sobre “Política, Partidos e Ideologias”, é interessante lembrar que muito do que testemunhamos aqui em nossas cidades é nada mais do que o reflexo, em nível municipal, do próprio cenário nacional, fases de maior ou menor democracia, de tendências conservadoras ou revolucionárias, de idéias semelhantes ou divergentes, que nos permitem dizer que ao longo de nossa história, não somente integramos uma estrutura maior, como participamos e vivemos sob os mais variados cenários políticos deste país.
Época que bem exemplifica essa idéia é a década de 1930, período movimentado do cenário político brasileiro e Riomafrense, onde uma organização política, de ideologia e atitudes bem típicas daquele momento histórico, se fazia presente: A Ação Integralista Brasileira – AIB. A AIB, fundada em 1932 pelo escritor e jornalista Plínio Salgado, sob o lema “Deus, Pátria e Família”, como tanto outros partidos políticos, tinha diretórios em diversas cidades, chegando a possuir mais 100.000 filiados, divididos em cerca de 1.000 núcleos espalhados pelo país, inclusive em Riomafra, com considerável número de filiados.
Produto de seu tempo, os Integralistas eram reflexo de uma corrente política em evidência tanto no contexto brasileiro, como mundial, a chamada “Extrema Direita”: Defendiam a existência de um único partido, o estabelecimento de um governo forte, o culto à personalidade do líder da nação, a exaltação do nacionalismo de forma exacerbada, o predomínio dos interesses do país sobre os interesses do indivíduo, a disciplina e hierarquia da sociedade, a censura aos meios de comunicação e o declarado combate aos ideais socialistas (no Brasil representados principalmente pela Aliança Nacional Libertadora – ANL, cuja principal corrente era a do Partido Comunista Brasileiro – PCB) .
A Extrema Direita brasileira inspirava-se na européia, embalada pela ascensão do Fascismo Italiano e do Nazismo Alemão, não restringia-se nessa “inspiração” apenas à ideologia política, mas adotava também algumas práticas bem características do Nazifascismo, como o perfil militarizado, a utilização de uniforme (que rendeu aos integralistas o apelido de “camisas verdes”), o uso de braçais com o símbolo SIGMA (letra do alfabeto grego que significava “soma de valores”), a produção de cenários próprios par seus eventos e a prática da saudação ANAUÊ (palavra de origem indígena que significa “eis-me aqui”), dita com o braço direito estendido e mão espalmada, como um belo plágio ao “HEIL HITLER” alemão, conforme o que pode ser facilmente verificado na fotografia de um grupo de Integralistas riomafrenses.
É válido lembrar que esse tipo de ideologia, por mais impacto que possa causar aos nossos olhos, era algo comum à época, pois além de refletir uma tendência mundial e mobilizar milhares de adeptos pelo Brasil, tinha também a simpatia, pelo menos aparente, do então Presidente da República Getúlio Vargas.
Aparente pois Getúlio em 1937, quando o país vivia a expectativa de eleições presidenciais, ocasião onde a AIB esperava alçar Plínio Salgado ao cargo máximo da República, instaurou o Estado Novo, golpe de Estado no qual sob a alegação da descoberta de um iminente plano comunista para tomada do poder no Brasil, cancelou as eleições, perseguiu adversários e acabou com a autonomia dos Estados, estabelecendo uma ditadura justificada pela necessidade de proteção contra o inimigo vermelho.
Nesse momento a Ação Integralista Brasileira foi extinta, a exemplo dos demais partidos políticos e, apesar de muitas de suas idéias serem posteriormente empregadas tanto por Vargas (que permaneceu no poder até 1945) como por outros governos que se seguiram, o Integralismo não mais voltou a existir, por, dentre outras coisas, a sua vinculação ao Nazifascismo combatido pelo Brasil na 2ª Guerra Mundial.