2014, um riomafrense decide por qualquer razão que seja (comercial, profissional, estudantil, lazer, etc.) ir à Joinville, então, com seu automóvel, vai até o trevo da BR 116 com BR 280, segue pela BR 280 até Rio Negrinho, então entra na SC 301 em São Bento do Sul, a chamada Estrada Dona Francisca e, após descer um belo trecho da serra do mar, numa viagem fácil, rápida e confortável, chega à cidade dos Príncipes.
Uma viagem já realizada pela maioria de nós riomafrenses e também por vários de nossos antepassados ao longo de mais de 120 anos, numa época onde nossos avós não seguiam um trajeto tão diferente do atual, na realidade até bem parecido, até no nome de sua principal via, a “Estrada Dona Francisca”. Nome que atualmente denomina a rodovia SC 301, que liga São Bento do Sul à Joinville, e que é célebre na região principalmente por seu belo trecho que atravessa a serra do mar.
Antigamente, partindo de Joinville, o término da Estrada Dona Francisca não era São Bento do Sul, mas sim Rio Negro, o que ainda pode-se perceber com uma olhadinha no mapa das ruas de Mafra, pela “ainda” presença da estrada com essa denominação, bem próximo à BR 280.
Então fica fácil dizer que possuímos importantes rodovias em nosso território já a muito tempo, enquanto utilizamos hoje as rodovias BR 116 e BR 280, tempos atrás, nossos avós utilizavam a Estrada das Tropas e a Estrada Dona Francisca, sendo a história da primeira (Estrada das Tropas) já bem conhecida de nossa população pelo seu vínculo à própria criação de nossos municípios, enquanto a segunda (Estrada Dona Francisca) ainda é um tanto obscura, cabendo assim algumas luzes sobre seu passado, principalmente o porque ela teria vindo até Riomafra.
A colônia alemã “Dona Francisca”, que deu origem à Joinville, foi fundada em 1851, e com o passar dos anos, seu crescimento e prosperidade fizeram com que novas necessidades fizessem parte da demanda daquela comunidade, enquanto inicialmente a preocupação maior tinha sido a busca de meios para a sobrevivência, o segundo momento que se vivia na segunda metade do século 19, apresentava-se com novos interesses, sendo um deles a busca pela construção de uma ligação com o planalto, pois isso representava uma forma de expandir a colônia à regiões até então desabitadas, escoar a produção, alcançar novos mercados consumidores (principalmente no caso das serrarias existentes na colônia), ter contato com outras colônias germânicas e também, espantar os índios que existiam na região.
Entre as opções de direção que a estrada poderia seguir estavam Curitiba, a capital Paranaense e a pequena Rio Negro (num rumo mais ao interior), que apesar de pequena também era detentora de colonização alemã e com ligação já estabelecida à próspera Lapa e desta à Curitiba.
Após muita discussão e muito tempo também, é claro, decidiu-se que a estrada iria à Rio Negro (imagine-se que questões políticas entre Paraná e Santa Catarina também influenciaram a decisão), pois a confirmação do traçado da estrada até o solo rionegrense só foi confirmada em 1867, numa decisão tomada contra a vontade paranaense.
Para nós, riomafrenses do passado, a vinda da estrada Dona Francisca era ótima, porque também tínhamos interesse nessa ligação, principalmente econômicos, pois enquanto produtores de erva mate (por exemplo) escoávamos nossa produção até o litoral (Morretes) via Curitiba, o que demandava um tempo entre 6 a 8 dias de viagem, e com a ligação à Joinville, nosso acesso ao litoral tornava-se mais rápido e econômico.
No início, a estrada Dona Francisca ou Serrastrasse (“Estrada da Serra”, como a chamavam os colonos alemães), era apenas uma picada, praticamente intransponível em períodos chuvosos, que possibilitou o nascimento da colônia de São Bento em 1875 e com isso, que serviu como um empurrão (de leve) à continuidade da construção da estrada, só concluída e entregue ao tráfego no ano de 1892, num atraso de entrega que daria inveja a qualquer estádio brasileiro da Copa do Mundo.
Dessa forma ganhamos, a muito custo, uma importante via de comunicação não só com Joinville, mas também com o litoral catarinense, o que, é claro, nos favoreceu e que se mantém até hoje, 122 anos depois.
Só para esclarecer um nome bem conhecido, mas sua origem nem tanto assim:
“Dona Francisca” faz referência à princesa Francisca Carolina, filha do imperador brasileiro Dom Pedro I, que casou-se com o Príncipe de Joinville (cidade francesa), o francês François Ferdinand.
Pelo casamento o príncipe recebeu como dote, grande extensão de terras próximas à São Francisco do Sul, área que foi mais tarde vendida à Sociedade Colonizadora Hamburguesa, que promoveu ali, a colonização germânica, com a criação da Colônia Dona Francisca (nome em homenagem à princesa), que deu origem à cidade que recebeu o nome de “Joinville”, agora em homenagem ao príncipe francês, antigo proprietário daquelas terras.