Acordar cedo, escovar os dentes, ir ao banheiro, tomar banho, atividades tão corriqueiras e porque não, “simples”, que muitas vezes passam despercebidas na correria de nosso dia-a-dia. Tão despercebidas, que geralmente às dedicamos pouca atenção e, a princípio, uma importância igualmente pequena.
Importância pequena até que falte algum item necessário para o que consideramos uma boa realização daquela atividade, como o que ocorre quando não temos à disposição momentaneamente a energia elétrica, água, papel higiênico ou pasta de dente, coisas que parecem “pequenas”, mas que tem o potencial de causar um “bom” aborrecimento pela quebra do nosso conforto e da nossa comodidade.
Produtos, serviços simples, tão comuns, tão parte das nossas vidas, quanto necessárias à rotina que estamos habituados, “coisas” que, porém não estão presentes há muito tempo na vida de boa parte de nossas famílias. Seus avós, seus pais ou talvez você mesmo já tenha vivido algum momento sem tantos “pequenos confortos” que o desenvolvimento nos proporcionou de anos pra cá e, que a lembrança de tempos não tão distantes chega a impressionar.
Assim, é difícil imaginar que o simples ato de ir ao banheiro poderia ser tão diferente daquele que estamos acostumados. Primeiro, porque não eram todas, aliás, eram até poucas, as casas que tinham o banheiro como um cômodo único, integrado a residência, pois geralmente as funções eram divididas em dois ambientes distintos.
Se hoje são comuns, principalmente nesta época do ano, os longos banhos quentes, em épocas“sem” água encanada e muito menos energia elétrica nas residências, esse banho era mais longo na preparação do que na ação, ou na própria“quentude” da água. Sem chuveiros, as grandes bacias (banheiras eram peças mais caras e menos comuns) eram a base dos banhos, enchidas com água retirada de poço. Banhos geralmente frios, que só podiam ser suavizados esquentando-se a água à balde, chaleira ou lata sobre os fogões à lenha, tomando ainda um cuidado redobrado para não se queimar nessa difícil operação.
Sentado na bacia (pois geralmente esse banho era tomado em algum quarto da casa e devia-se evitar molhar o chão) e com a ajuda de um caneco para jogar a água sobre o corpo, a higiene era melhorada não por sabonetes perfumados, mas por sabão mesmo, o mesmo tipo usado para lavar a louça ou as roupas, feito comumente de forma caseira, à base de diversos materiais, dentre os quais as “tripas de porco”, passado no corpo com o auxílio de um “paninho” ou de uma bucha natural, no lugar da nossa tradicional esponja.
Vale lembrar que o banho, de forma completa, de forma a lavar o corpo como um todo, nem sempre foi um costume geral, mesmo necessário e renovador, era muito comum a lavagem diária de apenas partes do corpo como pés, rosto e axilas, deixando para momentos mais específicos, como o fim de semana, um banho mais amplo.
Se tomar banho já não era tão fácil, cômodo ou rápido quanto hoje, ir ao banheiro para alguma necessidade fisiológica também não podia deixar de ser algo diferente.
A começar que o “trono” daquela época não ficava dentro de casa, nada de banheiro com encanamento, o negócio era a “casinha”, ou popularmente conhecida como “patente”, uma pequena estrutura de madeira “sem muitos luxos”, construída sobre um buraco, sem barreira de água para odores e a alguns metros afastada da casa.
Se o cheiro ou o assento não eram dos melhores, provavelmente o que proporcionaria maior desconforto àalgum de nós, seria a ausência do papel higiênico (criado no formato que conhecemos no final do século 19, mas popularizado e acessível a bem menos tempo). O jeito então era usar os produtos disponíveis naquele momento, no real sentido de “produtos disponíveis naquele momento”, como sacos de farelo, usado no trato de animais de criação ou então, sem qualquer tipo de graça ou ironia, “sabugo de milho”, produtos comuns à grande parte das famílias de nossa região.
E se tudo parece tão difícil e estranho, é porque não falamos ainda de como se costumava lavar o chão quando estava sujo, nada de sabão de tripa (artigo que merecia ser sempre poupado), a lavação era com água e “cinzas de fogão”, sob uma esfregação feita com palha de milho, o que chega a doer os braços e as mãos só de pensar, mas que na prática, tinha bons resultados na limpeza.
E os dentes? Nem pense em pasta de dente, escova com cerdas anatômicas, os dedos eram os instrumentos da ocasião, que esfregavam nos dentes “cinzas” ou sabão mesmo, o que limpava,mas devia proporcionar um gosto bem estranho na boca.
Hábitos comuns que feitos de forma e com o uso de produtos não tão comuns assim ao nosso dia-a-dia, revelam um pouco de como eram feitos num passado que não é muito distante não, sendo encontrados na forma descrita ainda na década de 1960.