125 anos depois da chegada da 1ª leva de imigrantes, daquela que é a maior etnia estrangeira a colonizar nossas cidades, os Alemães-Bucovinos, mais do que simples colonizadores, são representantes de uma história e cultura singulares em todo o nosso país.
A chegada a Riomafra de imigrantes vindos da Bucovina em 1887 e 1888, é apenas parte de um longo processo de imigração, iniciado ainda no século XVIII, quando famílias deixaram a região da Floresta Bávara no então Reino da Baviera (atualmente sul da Alemanha), para habitar a vizinha Floresta da Boêmia, já em território Austro-Húngaro. Movimento ocorrido em razão do costume de que ao primogênito cabia o direito sobre a herança dos pais, o que conservava a integralidade da propriedade rural e com isso, a capacidade de retirar dela o sustento da família, mas que também relegava aos demais filhos a subordinação ao irmão mais velho ou então a busca por outras terras.
A grande extensão do império Austro-Húngaro, que concentrava povos de diferentes culturas, com maior ou menor aceitação às ordens do governo austríaco, a existência de terras a desbravar, somadas a manutenção entre os Alemães-Boêmios do costume da primogenitura, levaram o império a incentivar a fundação de colônias germânicas na distante Bucovina (“Terra das Faias”), uma província à leste do país, vizinha da Transilvânia, hoje famosa pelas lendas de vampiros.
Dirigidos à Bucovina, entre os anos de 1841 e 1842, os Alemães-Boêmios em meio à população local, de idioma, costumes e tradições diferentes, fundaram as vilas de Bori e Buchenhain, estabelecendo suas moradias e desenvolvendo suas atividades profissionais (principalmente de cunho agrícola). Na Bucovina as famílias deixaram de praticar a tradição da primogenitura, o que, com o passar das gerações, levou a fragmentação das propriedades originais, até estágios em que várias não mais proporcionavam condições de sustento, trazendo mais uma vez àquele povo, a necessidade de imigrar.
Em uma época onde governos americanos incentivavam a vinda de imigrantes para constituírem mão-de-obra, quando Companhias de Colonização semeavam a expectativa de uma vida melhor no novo continente, os alemães-boêmios, fugindo à regra da maioria dos imigrantes vindos para o Brasil no período, escolheram local e realizam a viagem para cá de forma espontânea, sem a interferência de terceiros, atraídos à RioMafra por histórias narradas em cartas de parentes que aqui viviam.
Tão longa quanto difícil, a viagem obrigou os imigrantes a percorrer uma distância aproximada de 1800 km entre a Bucovina e o porto de Bremen (Alemanha), onde de navio seguiram para o Brasil, desembarcando no porto paranaense de Paranaguá, seguindo à Curitiba e daí, com o auxílio de carroças para o carregamento das bagagens, à pé até RioMafra.
Aqui, onde esses imigrantes passaram a ser conhecidos como Alemães-Bucovinos (pela raiz cultural germânica, pelo local de onde vinham e pela já existência de uma colônia alemã anterior), local onde essas depositaram suas esperanças de uma vida melhor, o voluntarismo de sua vinda implicou no conseqüente despreparo local para sua acolhida e instalação, o que junto das demais dificuldades de encontrar-se em um país estranho (idioma, clima, cultura) tornaram difíceis os primeiros tempos em nossas cidades, superados com o tempo e a conseqüente integração com a população local.
Os Alemães-Bucovinos são ao mesmo tempo o maior grupo étnico a colonizar Riomafra (377 pessoas) e o único do gênero em toda a América Latina, donos de uma história e cultura construída ao longo dos anos pelas regiões pelas quais esse povo habitou, o que confere grau de singularidade a essa cultura, que hoje 125 anos depois, integrada totalmente a nossa sociedade, pertence a cada cidadão mafrense, a quem cabe preservar, valorizar e usufruir.
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