A história, de um modo geral, é repleta de episódios que ressaltam qualidades e defeitos do seu grande agente, o ser humano, demonstrações de amor, compaixão, união, heroísmo, vida e coragem são tão comuns quanto acontecimentos repletos de dor, morte, covardia, traições, interesses escusos, individualismo e ódio e, ainda, tudo isso muitas vezes mesclado entre si, numa verdadeira demonstração de sentimentos e ações presentes em nossa a vida.
Quanto mais sentimentos, quanto maior a variação e a intensidade das sensações humanas (assim como suas motivações e consequências), maior, geralmente, é o destaque que o fato tem em nossa história, ganhando notoriedade e assim fazendo-se, como passado, mais presente na memória do nosso presente.
Desses casos que perpetuam-se na história, podemos dizer que um dos episódios mais “célebres”do passado em nossa região, repleto de narrativas que falam de coragem, heroísmo, valentia e também covardia, medo e muita dor, completa nestes dias, 120 anos de seu acontecimento: Em 5 de fevereiro de 1894, em plena guerra civil, o cerco Maragato à cidade da Lapa tornava-se mais acentuado, a luta travada casa a casa fazia a resistência da tropa Republicana tornar-se cada vez mais insustentável, num dos episódios mais conhecidos da “Revolução Federalista” em todo o país, um acontecimento decisivo do conflito que ocorreu aqui na vizinha Lapa, teve repercussão aqui em Riomafra e que merece ser recordado.
A transição da Monarquia para a República e os primeiros anos do novo regime político foi um período muito conturbado, contestações, disputas, descontentamentos com a centralização do poder e problemas sociais fizeram eclodir revoltas armadas pelo país, revoltas essas sempre reprimidas pelo governo, principalmente no mandato de nosso 2º Presidente, Floriano Peixoto, apelidado de “Marechal de Ferro”, pela energia, centralização e força com que exercia seu cargo após a renúncia do Presidente Marechal Deodoro da Fonseca.
No Rio Grande do Sul a disputa política entre republicanos (ou também chamados Castilhistas), defensores do governo de Floriano e federalistas (Maragatos) transformou-se em guerra civil que fugiu ao controle do governo e que pela união dos revoltosos Maragatos com os revoltosos da Revolta da Armada (rebelião que eclodiu entre setores da marinha brasileira) ameaçava o próprio governo federal.
Com o controle do Rio Grande e com o apoio da Armada, os federalistas deram início a um ousado empreendimento, depor pessoalmente o presidente Floriano Peixoto e assim, com um poderoso exército, rumando por diferentes caminhos colocaram-se em marcha rumo ao Rio de janeiro (então capital brasileira), conquistando tudo o que havia em eu caminho.
Em contrapartida o governo federal, despreparado para fazer frente a uma revolução daquela magnitude, necessitava de tempo para se organizar, assim era necessário que a marcha dos revoltosos gaúchos fosse contida, parada ou pelo menos atrasada, a fim de que as forças armadas se preparassem.
Dessa forma, com ordens do presidente da República, para impedir a iminente invasão do Estado do Paraná (pois Santa Catarina já havia sido praticamente toda conquistada) pelas forças maragatas revoltosas, o General Francisco de Paula Argollo partiu do Rio de Janeiro com uma expedição militar rumo à Curitiba.
Na capital paranaense o General, após assumir o comando do 5º Distrito Militar, dirigiu-se à Santa Catarina, passando pela Lapa e Rio Negro, onde ordenou a convocação da Guarda Nacional, mas foi em São Bento, onde proclamou-se Governador de Santa Catarina, que pôs-se em marcha a fim de lhe dar combate a tropa Maragata, comandada pelo General Piragibe que, segundo informações, estaria estacionada em Serrinha do Campo Alegre. Porém durante o deslocamento, informes indicaram que além da presença das tropas inimigas junto à estrada Dona Francisca, outro contingente Maragato estaria seguindo para Rio Negro pela estrada do Viamão, fato que implicaria em cerco a contingente do Exército.
Assim, a fim de evitar o possível envolvimento pelas tropas federalistas e ainda impedir a invasão do Estado do Paraná, o general Argolo desistiu da continuação da marcha e decidiu retroceder até o local onde as estradas por onde o inimigo seguia convergiam e, em posição vantajosa, oferecer combate à ambos, a Vila de Rio Negro. Foi em nossas cidades que se deram os primeiros combates entre Maragatos e Pica Paus e onde o General Argollo decidiu mais uma vez recuar, desta vez até a cidade da Lapa (recuo que fez Riomafra ser ocupada pelos revoltosos).
Nesse momento a revolução já havia chegado também a Tijucas e a Paranaguá, onde a vitória Maragata abriria caminho para a tomada de Curitiba e com isso, as ordens de Floriano foram para que não houvesse novos recuos, pois a força inimiga não deveria passar pela Lapa.
Para isso, o comando das forças republicanas foi trocado, o Coronel Antônio Ernesto Gomes Carneiro substituiu o General Argollo e a Lapa preparou-e para a luta: A cidade foi praticamente evacuada, fortificações foram construídas com pedras, madeira e sacos de areia, canhões foram posicionados e inicialmente, cerca de 1400 homens, entre soldados do exército, do regimento de segurança do Paraná, da guarda nacional e recrutados entre a população foram reunidos (porem, o envio de soldados para socorrer Paranaguá e Tijucas reduziu a força militar na Lapa a cerca de 900 homens).
Em janeiro de 1894, as tropas Maragatas dirigiram-se à Lapa e logo após os primeiros combates, cercaram a cidade, tinha início o “Cerco”.
Continua.