A preocupação com o trânsito de automóveis e pedestres entre Rio Negro e Mafra, ao contrário do que possa parecer, não é algo restrito ou exclusivo aos nossos dias, o problema relativo a dificuldade de passagem entre as duas margens do rio Negro, já foi tema de discussões em outros períodos da nossa história (cada qual com suas especificidades, é claro) e, agora reaparece novamente, assumindo a forma de um problema cíclico riomafrense.
Se a Estrada da Mata começou a ser aberto em 1826. Há muito tempo, as tropeadas já passavam por aqui, onde em 1829 já tínhamos uma colônia alemã, em 1870 Rio Negro já era município, em 1887 os imigrantes alemães-bucovinos já estavam nesta terra e se na metade da década de 1890 colonos poloneses já faziam parte de nossa população. Porém, somente em 1896, com a inauguração da ponte metálica “Dr. Diniz Assis Henning”, que finalmente, nossos conterrâneos do passado puderam atravessar o rio Negro sem o receio de realmente se “molharem”, pois até então a travessia era realizada por meio de balsa. Um método eficiente, mas que não devia ser algo tão prático ou confortável. Se a comodidade não era grande na simples travessia a pé, imagine precisar passar à outra margem com bagagens, mercadorias ou mesmo um veículo, como uma carroça, que ainda necessitaria do transporte de animais, um verdadeiro obstáculo à circulação de pessoas entre nossos municípios.
Assim, no final do século 19 (26 anos depois da emancipação rionegrense e 67 após a imigração alemã), passamos a contar com uma ponte sobre o rio Negro, de estrutura metálica, estreita e de piso de madeira, mas capaz de suprir as necessidades de tráfego dos nossos cerca de oito mil habitantes daquela época.
Mas, como uma tendência natural das coisas (principalmente das cidades), é se desenvolver, crescer (pelo menos em população), com o passar dos anos foi tornando aos poucos a ponte metálica, anteriormente capaz de suportar nosso trânsito, insuficiente em relação ao crescente número de pessoas e veículos que necessitavam circular por Rio Negro e Mafra. Situação que se arrastou por muito tempo, chegando ao ponto de, 70 anos depois, contarmos com aquela mesma estrutura de trânsito no centro de Riomafra, mas agora, com uma demanda total aproximada de 66 mil pessoas e 2,6 mil veículos, algo realmente bem complicado, um problema anunciado e previsível ao longo do tempo pelo simples aumento populacional.
Foi então que, com recursos do Ministério dos Transportes, realizou-se a construção de uma nova ponte. Essa em alvenaria e com dois sentidos de circulação (mão dupla), que exigiu um grande trabalho de readequação da margem e do trânsito mafrense. Uma grande e importante obra, inaugurada em abril de 1969, 73 anos depois da abertura da ponte metálica, mantendo a mesma linha de escoamento da velha ponte.
Com diferentes alturas entre as cabeceiras de ambas as margens do rio, a chamada “Ponte Nova” recebeu a denominação oficial de “ponte interestadual Coronel Rodrigo Ajace” (como pode ser verificado na placa metálica existente na própria ponte). A escolha de nome um tanto curiosa, pois o coronel de engenharia Rodrigo Ajace de Moreira Barbosa não só esteve presente no ato de inauguração da obra, como era secretário-geral do Ministério dos Transportes, num caso muito parecido com o do busto do governador paranaense “Manoel Ribas”, existente na praça João Pessoa, que além de inaugurado com a presença do homenageado, o mesmo encontrava-se naquele momento, em pleno exercício de seu cargo político.
É válido lembrar que, naquele abril de 1969, o Brasil vivia um período de governos militares e assim tinha o coronel Rodrigo Ajace como secretário-geral do Ministério dos Transportes (e que aliás foi agraciado com o título de Cidadão Honorário de Mafra pela Lei Municipal n°. 614 de 21 de janeiro daquele mesmo ano), o coronel Mário David Andreazza como ministro dos transportes (responsável pela realização de importantes obras públicas pelo país, como o asfaltamento da rodovia Belém-Brasília, a implantação da rodovia Transamazônica e a construção da ponte Rio-Niterói) e, sendo o General Artur da Costa e Silva, Presidente da República.
E hoje, a exemplo das décadas de 1890 e 1960, contamos com uma estrutura de trânsito entre Rio Negro e Mafra com grandes dificuldades de suportar a realidade dos novos tempos, afinal somos agora 84 mil habitantes, com uma frota total de aproximadamente 50 mil veículos, ou seja, quase 20 mil pessoas e 47 mil veículos a mais do que há 43 anos, quando a abertura da Rodrigo Ajace desafogou o trânsito até então centralizado na ponte metálica.
Assim, se observa que naturalmente, em virtude de seu crescimento populacional e do próprio aumento da frota de veículos, há uma necessidade periódica de melhoria da estrutura de trânsito entre nossas cidades, que é claro, deve ser estudada e planejada com atenção e visão de futuro, pois repetição do passado só é interessante quando o fato é positivo.