Mãe, eu vou morrer! Mãe eu vou morrer! Gritava o soldado contorcendo-se de dor devido a um grave ferimento no abdômen. Diante dele, seus companheiros acompanhavam aquela triste cena na mais completa impotência, não restava nada a fazer, afinal o ferimento era fatal e, as aplicações de morfina pareciam até então, inúteis para aplacar a dor e o desespero daquele jovem. Assim, foi com palavras de desespero semelhantes às daquele soldado que também dizia: “Não quero morrer!”, que muitos Pracinhas da Força Expedicionária Brasileira-FEB, guardaram algumas de suas principais e mais tristes lembranças da 2ª Guerra Mundial.
Lembrando que “guerra” é um confronto armado que pode ser causado pelos mais diversos fatores, mas que em todos os casos possui como elemento comum e central, a violência, mortes, assassinatos, ferimentos, dor, execuções, torturas, medo, situações de extrema privação, de pressão psicológica, de saudades, de preocupação e de incertezas, podemos crer que ela (a guerra) e, que tudo issorepresenta uma realidade que tem a capacidade de despertar no ser humano alguns dos nossos piores sentimentos, como o ódio, a vingança e a indiferença.
Mas, essa situação completamente anormal ao nosso cotidiano, com toda a gama de sensações que proporciona as pessoas nela envolvidas, também é capaz de despertar bons e nobres sentimentos, como a compaixão, a bravura, o amor e o desapego a si em favor de outro, sentimentos estes que nos revestem de virtudes excepcionais e que podem caracterizar a realização de atos de heroísmo.
A participação de riomafrenses na 2ª Guerra Mundial não é novidade para ninguém, muitos de nós conhecemos vários dos Pracinhas(ex-combatentes da FEB que lutaram nos campos de batalha da Itália) que nasceram ou moraram aqui em Rio Negro e Mafra. Para quantificar essa ideia, Agostinho José Rodrigues em seu livro “O Paraná na FEB” aponta a participação de 40 rionegrenses de nascimento na Força Expedicionária.
Dos 451 militares membros da FEB, que faleceram na Itália e, dos outros 1.577 que foram feridos em combate, figuravam alguns conterrâneos nossos que merecem lembrança, como o soldado Pedro Alves Calixto, integrante do 6º Regimento de Infantaria, que mesmo ferido por estilhaços de granada, logo após receber os primeiros socorros, recusou ser evacuado e manteve-se em combate junto de seus companheiros; e, o soldado Gumercindo da Silva, 1º rionegrense a tombar morto, a 18 de fevereiro de 1945 em Palazzo.
Após o falecimento de Gumercindo, outros três conterrâneos nossos seriam também mortalmente feridos em ação, todos eles num período de apenas 04 dias:
Primeiramente o mais conhecido e condecorado de todos eles, o Sargento Max Wolff Filho, chamado de o “Rei dos Patrulheiros”, cuja coragem era exaltada e reconhecida durante a própria guerra, que foi morto em 12 de abril daquele mesmo ano, em Maserno, enquanto liderava seu seleto grupo de comandados em mais uma arriscada missão.
Dias depois (15 de abril), durantes os combates de Montese, o soldado Adir Jorge foi gravemente ferido (vindo a falecer no hospital dia 22); mesma localidade onde no dia seguinte (16) Luiz Stoeberl Filho também seria morto.
Para aumentar a ideia de perda para os riomafrenses naqueles dias de abril de 1945, basta recordar que o Tenente Ary Rauen, que nasceu na região e viveu parte de sua infância em Riomafra e, na FEB teve atuação destacada em ações em Monte Castelo e Castelnuovo, a exemplo de Adir e Luiz, morreu em Montese em 14 de abril.
E ainda, somando-se aos casos anteriores, também naquele mesmo abril de 1945, mas escapando da fatalidade de suas consequências, Jovino Ribeiro, que viveu por muitos anos em Mafra, foi ferido em Iola no dia 19.
Assim, em meio a uma participação brasileira na 2ª Guerra Mundial que durou 239 dias, entre 1944 e 1945, vemos que a maior parte de nossas perdas e dores se concentrou em um período de apenas 10 dias, entre 12 e 22 de abril.