Costumeiramente falar, estudar ou ler história se torna curioso pelo fato de se verificar as diferenças entre o passado e o presente, constatar situações, comportamentos, formas de pensar, modas, que foram realidade um dia e que o tempo, por plena ação humana ao longo dele, é claro, o tornaram algo preso ao passado e que, aparentemente em nada se assemelha com o nosso dia-a-dia.
Como uma casa sem energia elétrica, eletrodomésticos, TV’s, videogames ou chuveiros; tempos de guerra, de medo, de epidemias; época onde só se usava calçados ou roupas de baixo a partir da adolescência (ou mais tarde ainda); de matas fechadas, de estreitas estradas, de transporte no lombo de cavalos, enfim de o grande contraste entre o que foi realidade para nossos antepassados e o que é realidade para nós.
Mas, tão impressionante quanto à visualização de diferenças existentes na vida das pessoas ao longo do tempo que a História nos proporciona, é a percepção das semelhanças também existentes entre períodos muitas vezes distantes nesse mesmo tempo, que nos fazem pensar que o passado é diferente e ao mesmo tempo semelhante ao presente.
Assim em tempos onde muito se fala e se vê sobre inclusão nas escolas, de valorização de diferenças étnicas, físicas, religiosas, pode soar como algo completamente estranho e sem sentido para nossos estudantes, a existência de estabelecimentos de ensino distintos para meninos e meninas ainda no século passado, como foi o caso em nosso município, da escola feminina e da escola masculina de São Lourenço nos anos “30”.
Também contrasta com o contexto atual, a intenção de que em 1842, como Vila Nova do Príncipe (Lapa), tentou-se aplicar multas aos professores que deixassem de comparecer à missa do sábado com seus alunos. Além da existência de multas também à professores que não seguissem as regras previstas nos regulamentos de ensino, cumprissem rigorosamente os horários estabelecidos e,para os pais “que não enviassem os filhos para a escola”.
Diferenças históricas que se evidenciam também na prática, pelos professores, de “castigos” aos seus alunos, sempre que fossem necessários. Situação que podia ser motivada pela indisciplina dos estudantes (que não era lá exatamente como a indisciplina que ganha os noticiários de hoje em dia) e, também desencadeada por problemas de aprendizado, baixo rendimento que podia resultar em repreensões, tarefas extras para realização fora do horário de aula, expulsão da escola ou uma variedade de castigos que objetivavam excitar o vexame sobre o aluno punido. Castigos que também chegavam as vias físicas, como o permanecer ajoelhado durante certo tempo, ajoelhar-se sobre milho ou mesmo a famosa palmatória (objeto usado para bater nas mãos dos alunos), que chegou a ser uma prática legalizada na Província de São Paulo no século 19 (da qual vale lembrar, fomos parte integrante).
Mas, por outro lado, se você uma notícia que diz que “a educação oferecida pela rede pública não tem a qualidade que devia ter, que apesar do empenho e dedicação exemplar de muitos, existem problemasrelacionados à negligência ou mesmo incapacidade dos mestres, também ao pouco compromisso de pais com o acompanhamento escolar dos filhos, ao baixo desempenho escolar, a evasão escolar e ao auxílio dos filhos aos pais no trabalho” e, acha que se fala de alguma pesquisa ou levantamento recente, saiba que essas são informações de uma educação de, pelo menos, 150 anos atrás.
Problemas antigos (e tão atuais) atestados já na década de 1850, logo depois da emancipação do Estado do Paraná, quando o novo Estado realizou um estudo para verificação da situação geral em que se encontrava, que apontou que os dados da educação eram “as mais desfavoráveis informações desse ramo do serviço público”, delineando o cenário inicial da instrução pública primária no Paraná, na segunda metade do século XIX (e que até então era de responsabilidade de São Paulo).
Uma educação que entre diferenças e semelhanças de passado e presente, que não se podem resumir somente no que foi dito, mostra-se de história curiosa, reveladora e impressionante, principalmente pelas dificuldades de antigamente, que impressionam por sua atualidade, por ainda se fazerem atuais em nosso país, mesmo 150 anos depois.