Começo de ano e principalmente essa primeira quinzena de janeiro que estamos vivendo é para muitos, período de férias, época para se descansar, viajar, se divertir um clima de festa, de confraternização, que é a continuação do final de dezembro, onde as comemorações do Natal e do Réveillon quebram o ritmo da rotina a que estamos acostumados ao longo do ano, enfim um período aguardado senão por todos, por quase todos que conheço.
Mas é claro, datas festivas e períodos de descanso não garantem por si só a alegria destes momentos, afinal, todos nós sabemos que os acontecimentos do nosso dia a dia acabam ditando o “clima” com que encaramos essas festas.
E se nós em nossas vidas, ao longo de algumas décadas podemos dizer que passamos alguns finais e inícios de ano sob um clima não tão festivo assim, imagine que em nossa história vários são os episódios que fizeram de dezembro e janeiro um mês um tanto “complexo”, que mais do que acontecimentos tristes, são fatos que podem nos servir de “reflexão de início de ano”.
Nos últimos dias de dezembro de 1896, o jornal “Kolonie Zeitung”, publicado em Joinville, noticiou em suas páginas um ataque indígena a imigrantes poloneses da Colônia Lucena (hoje Itaiópolis), que à época fazia parte do território rionegrense, mas, antes de irmos ao fato noticiado, vejamos alguns outros acontecimentos que o antecederam.
A criação de colônias de imigrantes em locais distantes do quadro urbano da Vila de Rio Negro, sem uma estrutura adequada e em terras habitadas por índios, levaram à ocorrência de confrontos entre imigrantes (e também brasileiros que ali se estabeleceram) e índios. Além de inúmeros relatos que permeiam a história de diversas famílias descendentes desses colonos, alguns “ocorridos” ainda podem ser precisados quanto a sua ocorrência, como o assassinato de uma família polonesa de cinco pessoas por índios, enquanto os mesmos trabalhavam na lavoura em que foram assentados em junho de 1896 e, de outros dois imigrantes em condições semelhantes, mortos em agosto daquele mesmo ano.
Assim, somadas as condições precárias dos colonos e os acontecimentos é fácil imaginar que, o que aconteceu em dezembro e foi noticiado em Joinville, seria algo de certa forma “previsível”: Na então chamada “Linha Mohema”, um grupo de cerca de cem indígenas realizou um ataque aos colonos poloneses ali estabelecidos, destruindo completamente oito casas e matando 20 pessoas, entre homens, mulheres e crianças, restando apenas um único sobrevivente.
Um fato que mostra as dificuldades e perigos que cercavam a vida daquelas pessoas, imigrantes dos quais muitos de nós descendemos e, que como o dito anteriormente, vale uma reflexão a cerca daqueles episódios: Falar de bem e mau em história é algo muito complicado, pois atribuir a alguém a imagem de mocinho ou bandido pode significar uma perigosa análise parcial do fato, um olhar tendencioso, ou mesmo a manipulação da informação a fim de convencer as pessoas de uma visão (uma forma de ver os fatos) que provavelmente estará de alguma forma, geralmente discreta, beneficiando a alguém.
Então, se os colonos foram as vítimas e os índios os agressores, poderíamos concluir que os indígenas foram o lado mau dessa história. Mas, se pensarmos que aquelas terras pertenciam aos índios e os poloneses (mesmo que não intencionalmente) estavam ocupando sem qualquer autorização (dos índios) aquela área, e que o assassinato de indígenas também povoa muitas das histórias contadas pelas famílias descendentes, o fato poderia até ser justificado e, os mocinhos seriam os índios. Mas aí cabe a reflexão, a análise mais atenta, quem seriam as grandes vítimas dessa história, imigrantes ou índios? A quem caberia então o título de vilão?
Acredito, e isso é algo pessoal (o que naturalmente pode ser contestado por você leitor), mais uma vez, que bem ou mal são conceitos que “quase sempre” deveriam ser evitados, mas que nesse caso ajudam a exemplificar a ideia.
Assim acho, que para definirmos quem é a vítima, temos que lembrar que são os três personagens dessa pequena história: 1 – os colonos poloneses, 2- os indígenas, que já habitavam aquela área e, 3 – , isso mesmo “3”, que é um personagem oculto, não citado, mas que sem sua atuação nada disso poderia ter ocorrido, esse personagem (provavelmente no plural) é aquele que colocou colonos e índios em “situação de enfrentamento”.
Aquele que realizou uma colonização sem oferecer a estrutura adequada aos colonos, como saúde, alimentação e “segurança” e que sabia que os estavam levando à terras habitadas por índios, que como qualquer um de nós, também não aceitaria passivamente a tomada das terras; aquele que viu esses confrontos ocorreram, se intensificarem, tornando-se o anúncio antecipado da morte de mais de 20 pessoas de uma única vez e nada ou pouco fez para evitar isso.
Quem são as vítimas então? Acho que tanto colonos quanto índios são essas vítimas, porque foram levadas ao confronto. E o vilão? O vilão geralmente é aquele que se oculta nos fatos, que por mais negativos que possam parecer (os fatos), o beneficiam de alguma forma.
Assim, vemos a importância de não se deixar convencer pelas aparências, de analisar as informações que nos chegam, de aprender com o passado e exercitar um dos maiores ensinamentos que a história nos passa, não “repetir erros” cometidos e pensar, se “bem ou mal” realmente existem ou se não passam de máscaras que escondem as verdadeiras faces dos nossos personagens.
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