O olhar desatento e superficial de um viajante pode levá-lo a imaginar que Mafra é como tantos outros municípios catarinenses, formada por uma população trabalhadora, possuidora de um território extenso e principalmente, dona de uma história baseada em fatos locais com pouca expressão além de suas próprias fronteiras.
Porém um olhar mais atento e profundo é capaz de revelar uma realidade despercebida não só por olhos estranhos, que por aqui simplesmente passam, como pela maioria de nossa própria gente, o fato de que somos detentores de uma história rica e fascinante, na qual figuram importantes acontecimentos que marcam o passado de Santa Catarina assim como de todo o Sul brasileiro, fazendo de Mafra elemento singular no cenário histórico/cultural do Estado:
Município que surgiu no rastro dos tropeiros que conduziam gado e muares do Rio Grande do Sul às feiras de Sorocaba, Mafra assistiu em seus primórdios o sertão ser rasgado pela Estrada da Mata, tarefa que sob a responsabilidade do Barão de Antonina, que propiciou não só melhoria na condução de animais, mas proporcionou principalmente a fixação do homem a este chão – chão utilizado como ponto de partida das tropas que seguiram à Guerra dos Farrapos, que viu o tombar dos seus pela varíola disseminada pelos soldados, que tremeu com o troar dos canhões de Pica-Paus e Maragatos durante a Revolução Federalista, foi abandonada, tomada e marcada pelo expurgo através da degola daqueles considerados traidores.
Testemunha da ação dos Monges, acompanhou o disseminar da fé do povo simples, contada até os dias de hoje em inúmeras lendas, povoadas de orações, cruzes, águas e milagres, ajudando a canonização popular de João Maria.
Em meio a convulsão social e disputas fronteiriças, viveu as agruras da Guerra do Contestado, sentiu o temor das incursões, sediou toda uma estrutura militar de cerco a área em conflito, tratou feridos, enterrou mortos, viu combater e combateu sob o comando do Coronel Nicolau Bley Netto.
E, após o término dos conflitos, com a definição das fronteiras entre Santa Catarina e Paraná, quando o rio Negro acabou por se tornar o divisor de um mesmo povo em duas cidades diferentes, não nasceu, pois sua existência se confere a terra e não simplesmente ao nome, mas sim, iniciou uma nova fase de sua existência, sob o nome de Mafra e bandeira de Santa Catarina.
Em quase 95 anos de criação e tantos outros, de uma história repleta de episódios de guerra, Mafra também se caracterizou como símbolo da esperança de uma vida digna para centenas de imigrantes que, ao longo do tempo aqui se estabeleceram, amparados pela chão que adotaram como pátria. Teuto-Bucovinos, alemães, poloneses, ucranianos, italianos, sírio-libaneses, povos de diferentes origens que se integraram ao alemento nacional (tropeiros, índigenas, gaúchos e caboclos) formaram a base da atual população mafrense, fato facilmente verificado pelos sobrenomes, semblantes e costumes dos seus cerca de 55 mil habitantes.
Mafra sempre viveu intensamente os acontecimentos de seu tempo, do cultivo da erva-mate a navegação pelo rio Negro, do Batalhão Patriótico do Coronel José Severiano Maia a construção da estrada de ferro, das grandes enchentes aos Pracinhas da 2ª Guerra Mundial, história e cultura estão presentes em cada esquina, prédio, localidade do interior, nas tradições e costumes de seu povo, cabe-nos a tarefa de conhecer a nossa própria história, compreender a dimensão de sua riqueza e acima de tudo, valorizá-la como bem pertencente a cada cidadão mafrense.