Facilitar a vida, tornar afazeres do dia-a-dia mais rápidos e menos desgastantes, buscar a praticidade na realização de tarefas diante de um “ritmo de vida” que exige cada vez mais, a realização de um maior número de atividades, isso em um período de tempo que, em contrapartida, não aumenta, que permanece sempre o mesmo, mas que parece ser cada vez mais curto.
Algo muito atual, que bem traduz o agitado cotidiano de muita gente. Atual e também muito pressente ao longo da nossa história, pois a exigência de que “façamos sempre mais coisas” não é, apesar de uma inegável aceleração nas últimas décadas, um fato novo, nossos avós também viveram tempos de correria, onde a busca da facilitação de muitas atividades, não era somente questão de conforto, mas também de necessidade diante de uma crescente quantidade de afazeres.
Como fazemos hoje, nossos avós também dispuseram de organização, de criatividade e dos meios que o “momento histórico” e as condições de vida da época oportunizavam, em diversas situações, sem sequer dispor de aparelhos ou mesmo energia elétrica.
Em tempos em que na própria propriedade, muito daquilo que ali era consumido, era também produzido e beneficiado, moer grãos requeria mais do que força, exigia também uma mescla de costumes e engenhosidade. Como a fabricação e utilização do Pilão, um artefato feito de um tronco de madeira escavado, onde eram colocados os grãos, como os de milho (por exemplo), que recebiam contínuas e firmes batidas do chamado “pau de pilão”, instrumento também de madeira, com uma ou as duas extremidades arredondadas, que era movido manualmente.
Atividade (de moer grãos) que poderia tornar-se mais prática, bem menos desgastante e ainda possibilitar a realização de outros trabalhos simultâneos, bastando que se dispusesse de uma outra estrutura, um pouco mais complexa, que empregava a força da água e recebia o nome de Monjolo, uma haste de madeira suspensa, como uma gangorra, onde um dos lados segurava um pau de pilão e o outro apresenta uma espécie de cocho que, uma vez cheio de água (normalmente alimentado por um córrego) levantava a extremidade com o pau e, este cocho, ao derramar sua água ocasionava a queda do pau sobre o pilão ali colocado com os grãos, promovendo com a repetição do movimento, a moagem.
Em outro caso, sem a existência de máquinas colheitadeiras, vários cereais, como o trigo e a cevada, eram colhidos com o auxílio de uma ferramenta conhecida, mas não muito comum atualmente, o Zenzo, uma foice comprida e de cabo longo, que em certos casos, além de ceifar, servia também como instrumento para o corte da grama do jardim. Tarefa que pode parecer difícil e, que sem dúvida exigia muita habilidade e um ótimo fio de corte, mas representava algo mais prático, rápido e de melhor qualidade que o mesmo trabalho feito “à base de facão”.
Fio de corte apurado que não era obtido através do emprego de uma lima de metal ou uma simples “pedra de afiar”, mas sim a custa de outra engenhoca, o Rebolo, um grosso disco de material abrasivo (como um pedra), que girado por uma manivela servia para amolar facas, facões e outras tantas ferramentas, economizando muito tempo e proporcionando um belo acabamento.
E se falando-se em ferramentas empregadas em tarefas pesadas, desgastantes mas porém práticas em certa época, não se poderia esquecer das Traçadeiras usadas no corte de árvores. A utilização da madeira de certas árvores para a confecção de tábuas, ripas e vigas, exigia um corte mais cuidadoso do tronco para a derrubada do que aquele proporcionado pelo machado, que muitas vezes danificava uma parte preciosa da madeira, principalmente quando a árvore era mais grossa.
Assim, ao invés do ronco das motosserras, ouvia-se o barulho das traçadeiras, grandes serrotes de cabo em ambas pontas, manuseados (na horizontal) por duas pessoas ao mesmo tempo, o que dividia o esforço demandado pelo corte. Uma tarefa que aparentava ser (do conforto do século 21) altamente cansativa, mas que era muito mais tranquila do que aquela que transformava o mesmo tronco em tábuas, o que era feito por outro tipo de traçadeira, também manuseadas por dois trabalhadores, mas posicionada na vertical, onde um trabalhador ficava sobre o tronco (devidamente colocado sobre grandes cavaletes) e o outro embaixo. Muita serragem e muito suor, que não fazem nem um pouco de inveja aos operadores das serras elétricas de nossas serrarias atuais.
E assim, utilizando-se de diversas ferramentas, máquinas simples ou mesmo engenhocas para a realização de atividades cotidianas que nossos avós facilitaram em muito as suas vidas. Praticidades que hoje se apresentam sob uma roupagem diferente, máquinas modernas para “dar conta” de problemas antigos, do trabalho e da crescente necessidade do aumento do número de nossas atividades, característica desse “ritmo de vida” que nos habituamos.