Roubos, assaltos, ameaças, agressões, exemplos de uma violência cada vez mais presente em nosso cotidiano, violência essa que não só povoa os noticiários de TV, garantindo grande audiência a programas sensacionalistas, mas que infelizmente está presente também em nossa realidade local.
Crimes causados, incentivados, motivados e negligenciados por diversos fatores, que tanto ameaçam nossa integridade, como também proporcionam certo clima de insegurança, de medo, que sofre variações de acordo com o bairro ou localidade riomafrense. Uma situação visualizada pela sociedade e combatida por nossas instituições de segurança pública, que buscam enfrentar e prevenir a ocorrência desses crimes.
Se a segurança pública é sem dúvida uma preocupação atual e, apesar de quantativamente a violência de hoje ser maior que a do passado, não é “lá muito correto” acreditar que essa preocupação é apenas coisado nosso tempo, afinal, confusão e descumprimento de leis não é uma prática nova, nem no Brasil e nem aqui também.
Se Rio Negro obteve sua emancipação política em 1870, é fácil de imaginar que para tal, o núcleo de povoamento já era considerável à época, afinal a “Vila”, com status de município, como todo, ou quase todo povoado (pois sempre há alguma exceção, apesar de rara) já contava com a ocorrência de casos que necessitavam de intervenção policial.
Uma intervenção necessária, anterior à própria emancipação, que pode ser verificada pela intenção da administração da Vila Nova do Príncipe (antiga denominação da Lapa, à qual éramos parte integrante até 1870) na construção de uma “prisão” em Rio Negro, mais de vinte anos antes de adquirirmos autonomia administrativa. Objetivo atingido com a autorização do Governo de São Paulo (uma vez que o estado do Paraná ainda não havia sido criado) em 1844, para a “construção”, que na verdade tratava-se de uma “adaptação” de um dos quartos do então quartel da Guarda Nacional aqui existente, que além de receber os “indiciados em crimes” também era direcionado aos “embriagados” que vagassem pelas ruas.
E, se a preocupação com a segurança local existia desde longa data, podemos observar ao longo da nossa história, a criação e atuação de organismos locais, como a Guarda Municipal, no início do século 20 e da Guarda de Vigilância Noturna de Mafra (em 1949), que atuando desde simples desavenças entre vizinhos até o auxílio a outras forças nas revoluções ocorridas no período, nunca manteve um numero regular de integrantes.
Em meio a tudo isso, várias histórias, muitos causos onde ao longo do tempo, foi necessária a atuação policial, épocas onde visões, procedimentos e da mesma forma leis, eram “um tanto diferentes” das que possuímos ou compartilhamos atualmente, gerando algumas situações bem inusitadas diante dos nossos olhos do século 21. Algumas dessas situações são descritas por Napoleão Dequech na Revista Comemorativa do Cinquentenário do Município de Mafra, de 1967:
Consta que na década de 1920, nos primeiros anos de criação de Mafra, certo delegado afamou-se por sua severidade e rigidez, que fizeram com que o número de pessoas portando armas pelas ruas (o que era até comum) se torna-se quase nulo. Conhecido também como fanfarrão, notabilizou-se ainda pelo uso de certos procedimentos “não muito ortodoxos” para hoje em dia, como obrigar pessoas a subirem em pinheiros usando tamancos (o que não só tornava a tarefa mais difícil como mais perigosa); o assustar presos na escuridão das celas com o uso de uma cobra de mentira; ou ainda,o uso de uma palmatória (instrumento mais conhecido por seu uso,à época, em salas de aula como forma de punir alunos), que seguia a mesma ideia do emprego escolar, mas com maior força e intensidade, de forma queaquela palmatória de madeira chegasse até a “aleijar alguns prisioneiros”.
Entre os diversos presos recolhidos ao xadrez da delegacia, talvez o mais célebre (pelo menos pelo nome pelo qual foi chamado) tenha sido o “Monge João Maria”.
Num período em que ainda via-se muito vivos os acontecimentos da Guerra do Contestado terminada poucos anos antes, a devoção ao monge, comum até nossos dias, não “era lá bem vista” pelas autoridades, tida como elo direto ao fanatismo religioso que figurara como um dos elementos desencadeadores do conflito.
Assim, em 1923 correu pelo município a notícia da presença de um grupo de “Fanáticos” na região do Bituva, possivelmente comandados por Bonifácio Papudo (líder caboclo durante a guerra), o que mereceu pronta verificação por nossas autoridades.
Talvez, possa parecer um pouco (ou muito mesmo) de exagero, mas conta-se que no local reuniam-se cerca de 300 fanáticos, liderados não por Bonifácio, mas pelo Monge e que, após luta com a força policial mafrense, tanto o Monge, quanto aproximadamente 38 fanáticos e ainda três mulheres, foram presos e encarcerados, uma façanha sem dúvida excepcional, principalmente para um pequeno grupo de apenas sete policiais.
Durante o tempo em que ficou preso (até tomar destino ignorado, talvez, mandado para fora da cidade e fuzilado) o tal monge acabou por, de certa forma, auxiliar o próprio delegado, não por qualquer depoimento ou informação importante, uma vez que limitava-se a “cantar e fazer sinais cabalísticos”, mas graças ao notável “mau cheiro” que exalava. Fedor que era uma verdadeira “tortura” para outros presos colocados na mesma cela, o que, por acaso, aconteceu com alguns de seus adversários políticos.
Exemplos de uma segurança pública com as características de seu tempo, mutável pelos diversos contextos nos quais a sociedade esteve inserida, diferente, curiosa, mas presente desde muito cedo em nossa Riomafra.