Seja quando ainda era conhecido como rio Una ou já com a denominação de rio Negro, esse curso d´água, tão comum a nós riomafrenses, que já dividiu uma mesma cidade e hoje marca a fronteira política entre dois estados, por muito tempo representou um desafiante obstáculo a viajantes e moradores dessa região.
Nos primórdios da história de Riomafra, antes do estabelecimento de qualquer núcleo de colonização que possibilitasse a existência de meios mais práticos e efetivos para a transposição do rio Negro, exploradores, tropeiros e comitivas de gado venciam a nado as águas barrentas do rio, completamente sujeitos às condições do tempo, frio, chuva, secas e enchentes, implicavam diretamente no grau de dificuldade da investida.
Com o estabelecimento dos primeiros colonizadores, a passagem de pessoas e mercadorias entre ambas as margens tornou-se constante e imprescindível, pois moradias, casas comerciais e fábricas que surgiam, dividiam-se entre o que hoje é Mafra e Rio Negro, fato que levou a criação de um sistema de transposição adequado às possibilidades e meios da época: A travessia de pessoas e materiais era feita por meio de uma pequena balsa, restando às tropas, a única opção de passagem pelas águas.
A utilização da balsa, apesar de parecer algo extremamente precário aos nossos olhos, acostumados à constante evolução tecnológica do século XXI, foi, para os habitantes da época, uma mudança drástica no seu cotidiano, e para muito melhor. A partir daquele momento, sem esforço físico, sem demandar qualquer habilidade e transtorno no transporte e condução de pequenos botes ou mesmo conhecimento de natação, não sujeitando-se mais às variações do tempo, mas com certo conforto e praticidade, o rio passou a ser atravessado de forma fácil, porém ainda revestido de certo potencial de risco.
Um serviço cuja praticidade e agilidade conferidas ao transporte de uma margem à outra do rio Negro, não só eram importantes a nossos antepassados, como também chegou a ter caráter estratégico, como viu-se na disputa à tiros, entre Pica-Paus e Maragatos, pelo controle da balsa durante a Revolução Federalista.
A cena de travessia das águas do rio pela balsa pode ser vista durante muito tempo, do princípio do povoamento, passando a emancipação política de Rio Negro e resistindo até o fins do século XIX, quando em 1896, finalmente o desafio da passagem sobre o rio Negro foi realmente vencido, com a inauguração de um meio permanente, seguro e de ampla utilização: A ponte metálica Dr. Diniz Assis Henning.
Ponte esta que facilitou de tal forma a circulação de habitantes e viajantes por Riomafra, que chegou a ser preocupação durante a Guerra do Contestado, quando foi fechada com arame farpado a fim de impedir a possível passagem de revoltosos para a margem direita.
Aos poucos a ponte metálica, o trânsito de pequenas embarcações, que passaram a usar o rio como via de transporte e a construção da ponte Coronel Rodrigo Ajace, já na década de 1960, promoveram um processo de mudança da imagem do rio para nossa população urbana riomafrense, a contínua melhoria e praticidade da transposição de suas águas ao longo dos anos, fez com que o rio perdesse a imagem de empecilho ou obstáculo à vida local, passando a figurar como mero elemento da paisagem do centro de Riomafra.
Atualmente, a visão da construção uma terceira ponte, ao mesmo tempo que fixa a imagem do rio como simples componente da paisagem central de nossas cidades, lembra que mais uma vez busca-se, primeiramente, vencer o antigo desafio de transpor o rio Negro.