Viver em outro país, seja por questão de status, luxo, por questões profissionais, acadêmicas ou mesmo sem motivação aparente, é sonho para muita gente, que em grande parte sabe que, por mais desejado que isso seja, a mudança não é algo fácil, ela implica muitas vezes, em um choque cultural e social que necessita de adaptação e para o qual, com certeza, deve haver uma preparação antecipada, idioma, cultura, alimentação, para que haja uma considerável diminuição desse impacto.
De qualquer forma, a menos que já exista por alguma razão, uma familiaridade e conhecimento com o país de destino, essa mudança não representa algo simples e pode revelar-se como algo não tão bonito quanto o imaginado.
Se estamos nos referindo a um processo difícil hoje em dia, imagine como era isso no século 19, quando os grandes movimentos imigratórios eram motivados por fatores econômicos e a terra de destino representava uma oportunidade de melhoria das condições de vida de toda a família. A exemplo do ocorrido em outras partes de nosso país, foi assim que centenas de pessoas deixaram a Europa e passaram a fixar residência em Riomafra, em uma época em que os transportes e as comunicações estavam muito aquém do que se vê como condições ideais mínimas na atualidade e, além disso, com pouquíssimas e contraditórias informações sobre seu destino e sem qualquer tipo de preparação prévia. Uma mudança radical e praticamente “às cegas”.
E ainda, mais difícil do que os tradicionais desafios enfrentados pela situação de imigrante, como a integração à população, o aprendizado do idioma, a adaptação ao clima, foi, sem dúvida, o contexto enfrentado pelos primeiros imigrantes que aqui chegaram, com o status de colonizadores, pois quando pisaram aqui, não havia “cidade” e praticamente não havia população, ou seja, sua função inicial não era necessariamente integrar-se à cidade, mas sim, ajudar a criá-la.
Tarefa de instalar aqui uma povoação, que foi atribuída a João da Silva Machado, o Barão de Antonina, pelo Presidente da Província de São Paulo, por ocasião da abertura da Estrada da Mata, missão auxiliada pela própria política de imigração da época, que oferecia incentivos por parte do governo brasileiro e pela ação “eficiente” das companhias colonizadoras. Assim, os imigrantes tornaram-se uma grande opção de impulso à colonização, cabendo a eles a execução “na prática” da missão do Barão, colonizando a terra que viria a se tornar Riomafra. É nesse ponto que os imigrantes alemães passam a fazer parte de nossa história.
Originários da antiga cidade Prussiana de Trier, (lembrando que a Prússia é um dos Estados que viria a formar a atual Alemanha), 12 famílias chegaram aqui em fevereiro de 1829 e outras 17, em novembro daquele mesmo ano, fazendo daqui a 1ª colônia alemã do Paraná e Santa Catarina e a 2ª colônia alemã no Brasil (sendo a 1ª em São Leopoldo em 1824), glória que não lhes rendeu qualquer tipo de tratamento especial, pois esses 139 alemães encontraram uma Riomafra sem prefeituras ou câmaras e que na verdade nem era ao menos Rio Negro e sim uma área distante pertencente à Vila Nova do Príncipe (Lapa), região ainda a ser desbravada.
O recebimento de um subsídio de 160,00 Réis por indivíduo adulto e de 80,00 Réis para menores, assim como a demarcação de um lote de 400 braças por família pode, a primeira vista, demonstrar que a situação daqueles imigrantes era confortável, porém alguns documentos, apontam para uma realidade bem diferente da imaginada, como um relatório da Câmara rionegrense de 1887, no qual consta que “139 pessoas ao todo (em referência aos imigrantes alemães) que foram aqui lançadas no meio das feras e sem recursos”; e o relato de Nicolau Bley: “Fácil será qualquer conhecedor julgar dos sofrimentos de um homem aos vinte anos de idade transportar-se de uma cidade onde nunca manchou as mãos com o rude cabo de um instrumento agrário, para vir residir em um sertão inóspito, sem estradas, sem comércio, sem guia e sem dinheiro, face a face com a miséria rodeada do seu lúgrebe cortejo”.
Diante de tudo, é admirável não só o fato da aceitação dessas pessoas em aventurar-se em uma imigração tão radical, como principalmente a postura de todos aqueles que enfrentaram desafios e dificuldades, difíceis de se mensurar e até compreender com exatidão nos dias de hoje, provas de coragem, trabalho, persistência e progresso, que formam o alicerce sob o qual foram erguidos nossos municípios e a base da nossa atual população.
Tudo isso numa bela demonstração de pensamento e atitude, que bem traduz as palavras de Nicolau Bley: “Não desanimei, meti a mão no trabalho, amassando o negro pão com o suor do meu rosto; consegui, contudo em breve, expelir a miséria, e da semente lançada na terra virgem regada com lágrimas abasteci minha casa…”
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