Estudar, aprender a ler e escrever, resolver operações matemáticas, conhecer a história, a geografia e as ciências, apesar das dificuldades de acesso à escola que podem ainda existir, “estudar” de uma forma geral, não representa algo muito difícil ou distante da realidade que vivemos.
Escolas, vagas, assim como o próprio transporte até elas, fazem “hoje” do “estudar” (no simples sentido de frequentar uma escola) algo ao alcance de todos, ou pelo menos quase todos, nas limitações que a estrutura oferece.
Uma educação planejada sobre múltiplos e diferentes aspectos, do desenvolvimento pessoal, da formação de conhecimento, da socialização, da inclusão, assim como da dedicação dos alunos envolvidos nesse grande processo e a participação ativa das famílias e da comunidade, tanto no acompanhamento dos estudantes, quanto numa ação efetiva junto à unidade escolar, cujos custos de manutenção e funcionamento às vezes, vão além dos repasses públicos.
Situações comuns, próximas de nós, que podem ao mesmo tempo diferir quanto se assemelhar com a realidade de outros tempos, afinal, distâncias consideráveis a serem enfrentadas a pé até a escola e, a própria mentalidade das famílias na época, quanto a real importância ou a pertinência dos estudos, que variava entre meninos e meninas (e idades também!), com certeza já foram algum dia sentidos na vida de muitos de nós.
Se as coisas já não eram tão fáceis a 40 ou 50 anos, imagine isso a 100 ou 120 anos, quando Riomafra ainda era uma jovem cidade, de poucas escolas, com menos recursos e estruturas disponíveis (bem menos!) e com uma população não muito homogênea, formada por brasileiros e imigrantes de várias nacionalidades, em um contraste interessante de idiomas e culturas.
É nesse contexto, que a história de uma pequena escola se torna um bom exemplo do conceito que a “educação” tinha para a comunidade daquela época e lugar.
Chamando até hoje a atenção de quem passa pela rua por suas paredes em estilo enxaimel (de vigas de madeira e tijolos aparentes), num modelo bem “germânico” de construção, a antiga Escola do Passa Três, localizada no bairro de mesmo, foi construída na antiga colônia de imigrantes alemães-bucovinos, pelos próprios colonos bucovinos, tanto no trabalho de ereção do prédio, quanto nas despesas decorrentes da obra
Algo realmente notável, levando-se em consideração não só o empenho e dedicação da comunidade em benefício de seus filhos, como a própria prioridade que a educação dessas crianças mostrou ter para aquelas pessoas: Essas famílias haviam chego aqui em Riomafra nos anos de 1887 e 1888, praticamente sem dinheiro ou qualquer outro bem, afinal tinham imigrado em busca de melhores condições e perspectivas de vida; tinham não só o desejo ou a vontade, mas o dever em construir uma vida mais próspera; e, entre receber seus lotes de terra (que tiveram que ser indenizados, é claro), tidos como áreas pouco produtivas, prepará-los para a agricultura e pecuária, construir uma moradia que oferecesse o mínimo de segurança e conforto; propiciar o sustento da família em todas suas necessidades por meio daprodução que se tirasse daquela terra (e outras atividades profissionais desenvolvidas); a necessidade da educação tornou-se algo prático e visível já em 1892, com o início das obras deconstrução da escola, apenas 5 anos depois da chegada dos primeiros imigrantes.
Uma construção interrompida nos anos da Revolução Federalista, afinal, ficava justamente na estrada que conduzia à Lapa, que funcionou temporariamente na residência de bucovinos, que exigiu a contratação de professores; que enfrentou dificuldades financeiras, recebeu auxílio público e por vezes foi amparada por aquela mesma comunidade que a criou; e, que sofreu nos tempos das Grandes Guerras Mundiais com as proibições do ensino da língua alemã em instituições de ensino, uma coisa muito complicada, principalmente quando se trata de uma escola de colonos de origem germânica que falavam o dialeto bávaro em casa e por necessidade e mesmo cultura, tinham o idioma alemão como disciplina escolar.
Hoje, a “Escolinha Bucovina” do Passa Três, que funcionou até o início da década de 1950,é Patrimônio Histórico e Cultural do Município de Rio Negro (Lei nº 693/92) e exemplo de valorização do “estudo”, o exemplo da “pequena escola da colônia de imigrantes, construída e mantida por colonos (que não tinham muitos recursos financeiros) que buscavam recomeçar de vida e sabiam que, a esperança e a certeza de dias melhores para suas famílias, sonhados desde a Europa, só podiam ser concretizados com a “educação” de seus filhos.