Conhecer o contexto de outros tempos, situações as quais nossos antepassados viveram é sempre interessante, não somente por verificar as diferenças, que muitas vezes chegam a ser curiosas, mas também por poder notar semelhanças, compreender ideias da época e o próprio desenvolvimento do processo histórico.
Para tal visualização do passado, muitas são as possibilidades de sua realização, que variam de acordo com as fontes ou a soma das fontes que possuímos e proporcionam um olhar sobre aquilo que já passou.
Nesse sentido, a transcrição de uma correspondência na “Revista Comemorativa do Cinquentenário do Município de Mafra” de Napoleão Dequech (uma das mais importantes obras sobre a história de nosso município, editada em 19667), enviada por Victorino Bacellar (então Superintendente Municipal) ao Deputado Estadual Edmundo Pinto da Luz, se revela em um curioso recorte da realidade que vivíamos em 1919. Uma carta que apresentando uma série de pedidos, assim como também expondo algumas reclamações, nos dão uma ideia da situação daquela Mafra de antigamente, então criada a apenas dois anos.
Uma das principais reclamações contidas daquele documento, faz referência a um fato que já chamava a atenção do nosso Conselho Municipal nos primeiros dias após a instalação do Município de Mafra em 1917 e, que já havia se tornado objeto de manifestação direta ao Governo do Estado de Santa Catarina, pois, contrariando os interesses locais, ganhava força a pretensão de desmembramento do recém criado Município, com a emancipação do então distrito de Itaiópolis.
Esse desmembramento, que veio a acontecer logo no ano seguinte, era lembrado com pesar, na carta de 1919, que destacava a Itaiópolis como uma rica área de colonização. Mas o mais curioso não é o elogio ao município vizinho, mas sim a forma com que os demais distritos que integravam Mafra foram referenciados: “Era Itayópolis um distrito rico formado por colonos polacos e alemães, restando para Mafra três distritos pobres por pertencerem suas terras a donatarios denominados “Fazendeiros” que dedicam-se a pequena lavoura de milho e feijão e tiram alguma arroba de herva-mate e criam algum gado, sem cultivo e vivem vida feliz, morando alguns desses felizardos na cidade e lá na “Fazenda” teem algum agregado para fazer roça e tratar do gadinho. “
Se a situação rural do município, que originalmente contava com 4 distritos (Sede, Bela Vista, Rio Preto e Itaiópolis) aparentemente demonstrava ser pouco produtiva, o que desagradava à Superintendência, a correspondência solicitava ao deputado a criação de uma “escola agronômica para ensinar noções de agricultura prática” direcionada aos filhos de nossos agricultores e, juntamente com o pedido dessa “escola agrícola”, preiteava-se também o recebimento de sementes de trigo, cevada e centeio para nossa safra. E, para não perder o foco do “distrito desmembrado”, lembrava-se que grande parte das sementes enviadas no ano anterior haviam sido destinadas à Itaiopolis (que ainda era Mafra), o que na prática, acabou por não representar o incentivo agrícola que se esperava.
Como solução também apresentada àqueles problemas, Victorino solicitava naquela ocasião, a vinda de colonos para as terras mafrenses, vinculando a isso, a construção de estradas que cortassem o município, dentre as quais eram citadas vias ligando a sede mafrense até Papanduva, o Rio Preto ao Rio Bituva e, é claro, uma estrada até Itaiópolis.
Também, é interessante lembrar, que já naquela época solicitava-se a melhoria da ponte existente sobre o rio Negro (na ocasião, a ponte metálica), que se achava em más condições; a construção de uma outra, esta sobre o rio da Lança e; ainda, buscava-se apoio para a construção de um prédio para oa Conselho Municipal, que não possuía sede própria.
Assim uma correspondência, que talvez possa ser resumida em uma única de suas frases, “Não temos senão péssimas estradas, nem uma colônia, tendo tantas terras baldias nas mãos de donatários felizes”, nos permite lançar um olhar sobre o passado e conhecer um pouco mais das dificuldades e aspirações dos primeiros anos de nossa Mafra.