Há uma tendência de que o passar dos anos e o natural desenvolvimento humano, com seu avanço tecnológico, leve a uma melhoria das condições de vida, respeitando-se, é claro, as questões relativas ao acesso das pessoas à essas tecnologias, podemos ousar dizer que o ser humano busca constantemente, facilitar sua própria vida.
Facilidade que não só refere-se às coisas grandiosas, de repercução coletiva em termos mundiais ou nacionais, mas coisas que também se fazem presentes na simplicidade de nosso dia-a-dia, as quais nos momentos em que recordamos o passado, tem grande impacto em comparação com o contexto do nosso presente.
Se hoje o trabalho de se tomar o “café da manhã” não vai além do apertar o botão da cafeteira e retirar os alimentos da geladeira e do armário, em outros tempos, não tão distantes assim, essa simples atividade de nosso cotidiano pode não parecer tão simples assim.
Ir à cozinha, que em alguns casos ficava fora da estrutura da casa e ascender o fogão à lenha, era uma das primeiras ações a serem realizadas logo depois de acordar, com “despertador à corda”, o raiar do sol ou canto dos galos (lembrando que a lenha já deveria ter sido cortada, à machado e levada ao caixão de lenha, provavelmente no dia anterior).
Enquanto o fogão esquentava, a água para o café era retirada do poço de forma manual, pois sem energia elétrica ou água encanada esse artigo não estava tão à mão quanto atualmente. Como o leite não costumava vir em caixinha, o jeito era retirá-lo direto da fonte, assim ordenhar a, ou as vacas, era uma necessidade, que como todo trato dos animais, extrapolava o simples desejo de um cafezinho mais rebuscado.
Leite tirado e aproveitando-se o fogão para sua fervura, ainda restava preparar outro importante, senão “vital” produto para a refeição que se queria, pois vários eram os casos em que se moíam (com moedores manuais), na mesma manhã, grãos de café torrados, o que espalhava o cheirinho característico do fruto por todo o ambiente.
Então, com água quente, leite fervido e pó de café fresquinho, finalmente se “passava o café”, em coador de pano, suspenso por uma armação de madeira para apoio (especialmente feita para tal finalidade), cujo líquido tão esperado, escorria lentamente para o bule metálico que seria levado à mesa na refeição, ou então deixado sobre o fogão para não esfriar.
Apesar do trabalho já estar concluído, ou ao menos boa parte dele, quase tudo o que completava a mesa do café da manhã, já havia dado trabalho anteriormente, aliás muito trabalho, pois muitas famílias, principalmente aqui em nossas cidades, produzia parte de seus artigos alimentícios: Da manteiga, ao requeijão e o queijo vindos do leite; do pão caseiro assado em “forno de lenha”, grande e de casca grossa; dos ovos vindos ali do galinheiro da propriedade; ao chouriço e a linguiça, preparados numa verdadeira maratona de atividades que se seguia após o abate de um suíno e que chegava a envolver família e vizinhos em seu preparo.
Com tudo isso, aí se tomava, finalmente, o café da manhã, marcando o início, somente o início, de mais um dia, que por muito tempo haveria de se repetir da mesma forma até, que os tempos mudassem e novas tecnologias fossem lentamente alterando essa rotina.
Se ainda pensarmos que a louça utilizada tinha que ser lavada, com a água a ser tirada do poço, com sabão também feito em casa, que a lavação não dispunha de pia, mas se realizava dentro de uma bacia ou gamela de madeira, que o caixão de lenha tinha que ser reabastecido, que a chapa do fogão tinha que ser periodicamente lixada, entre tantas outras coisas, teremos um pouco de noção de como nossos avós, pais e em alguns casos, nós mesmos, gastávamos muita energia e muito tempo com algo tido como simples atualmente. Atividades que lembradas hoje, nos ajudam a ter noção da passagem do tempo, das facilidades que dispomos hoje e, apesar do trabalho e das aparentes dificuldades de antigamente, despertar uma certa saudade daquele tempo que ficou para trás.