Que o Brasil já foi um império, governado por reis (Dom Pedro I e Dom Pedro II) é um fato de conhecimento amplo, de praticamente todo brasileiro e, consequentemente, assim como possuíamos reis, também tivemos imperatrizes, príncipes e princesas, enfim toda uma família real, pessoas com laços de parentesco com o rei e, que necessariamente, não se resumem aos herdeiros diretos ao trono.

Também é de conhecimento geral que a presença de autoridades em qualquer tempo, antes, durante e depois de nosso período imperial, em pequenas cidades, quase sempre foram motivo de movimentação local, onde recepções e homenagens de diversos tipos procuravam não só homenagear o desempenho público da autoridade como também chamar a atenção para o local visitado.

Então é fácil de imaginar o que a presença de um príncipe em uma pequena vila, no final do século passado, dificilmente passaria despercebida.

O príncipe, membro da família real brasileira, que esteve em nossa terra tratou-se de Dom Luís Filipe Maria Fernando Gastão de Orléans, mais conhecido como Conde d’Eu, membro da realeza francesa, casado com a princesa D. Isabel Cristina Leopoldina de Bragança (célebre pela assinatura da Lei Áurea, que aboliu a escravidão em 1889) filha do imperador Dom Pedro II e primeira na linha de sucessão real, ou seja, na ocasião, considerada futura rainha do Brasil.

Mas, a fama do genro de Dom Pedro II não se restringia simplesmente ao parentesco real, pois o mesmo havia anos antes, obtido fama, com a participação na Guerra do Paraguai, onde chegou a exercer, com apenas 27 anos de idade, a função de comandante-em-chefe os exércitos aliados em 1869 (Brasil, Argentina e Uruguai), organizando e disciplinando a tropa.

O nome do Conde esteve em evidência em Riomafra principalmente no ano de 1884, quando, para surpresa geral, uma consulta à Presidência da Província do Paraná, sobre uma requisição de terrenos municipais por cidadãos locais, teve resposta que sugeria que “as terras da município pertenciam ao dote recebido por ocasião de seu casamento com Isabel em 1863”.

Maior surpresa e maior evidência ainda, teve o nome de Gastão ainda naquele mesmo ano, quando em dezembro, o Conde d’Eu em pessoa pisou este chão.

Não em visita oficial, não com compromissos agendados, não com audiência com autoridades locais ou mesmo contato com nossa população, como poderia-se talvez imaginar, mas simplesmente como passagem de sua comitiva durante uma viajem à Joinville, pois como entroncamento de estradas que levaram as Sul do país, Rio Negro era caminho quase que obrigatório.

Após uma visita à Província do Paraná, o casal real, Gastão e Isabel, seguiu por caminhos diferentes: Enquanto a princesa partiu de Curitiba para Paranaguá e dali seguiu de navio até Desterro (Florianópolis); o príncipe, decidiu fazer o percurso por terra (muito mais demorado e desgastante), à cavalo, até Desterro, passando assim pela Lapa, Rio Negro, Joinville para então, encontrar com a esposa na capital Catarinense.

Então, a passagem de Conde d’Eu foi breve, marcada pelo pouso, pelo pernoite aqui realizado na fazenda do senhor Antônio Ricardo dos Santos Filho, de onde seguiu viagem no dia seguinte até São Bento do Sul, utilizando a estrada Dona Francisca.

Pouco mais de uma noite, mas tempo suficiente para a Câmara Municipal da Vila de Rio Negro propor que a estrada que levava à casa onde pernoitara o príncipe, passasse a ser denominada “Travessa Conde d’Eu” e ainda lhe fosse dirigido ofício, conforme cita Raul d’Almeida: “Digníssimo Senhor Conde d’Eu. A Câmara Municipal desta Vila de Rio Negro, ao saber da grata quão auspiciosa notícia da estada de Vossa Alteza Imperial no território rio-negrense, se dignando visitar este município, apressasse em vir render a V.A.I. preito de homenagem, respeito, amor e gratidão. E aproveita também a ocasião a oferecer a V.A.I. todo aquilo de que possa carecer. Paço da Câmara Municipal de Rio Negro – 10 de dezembro de 1884”.

E assim como chegou, o príncipe partiu em direção à Joinville, vindo a pernoitar na noite seguinte (11) em São Bento do Sul, onde também lhe foram rendida atenção e homenagens semelhantes.

Se a visita do príncipe foi apenas uma rápida passagem, se o príncipe não era o herdeiro direto ao trono e, se isso pouco ou nada mudou em Riomafra, fato é que o Conde d’Eu esteve aqui, e por algumas horas, a realeza pisou este chão.

A família real

Gaston Conde

Gaston d'Orléans,Comted 'Eu

Na guerra do Paraguai